A Acácia

Introdução

O gênero Acacia, com aproximadamente 2.000.000 ha plantados em todo o mundo, apresenta uma relevante importância do ponto de vista social e industrial no reflorestamento. As espécies de maior utilização são Acacia mangium e Acacia auriculiformis sendo suas produções direcionadas para polpa de celulose, madeira para movelaria e construção, matéria-prima para compensados, combustível, controle de erosão, quebra-vento e sombreamento (MARSARO JR,s.d.).

A espécie é uma leguminosa pioneira e vem despertando a atenção dos técnicos e pesquisadores pela rusticidade, rapidez de crescimento e, principalmente, por ser espécie nitrificadora (VEIGA et al.,2000).

O interesse também parte por ela apresentar significativa capacidade de adaptação às condições edafoclimáticas brasileiras (ANDRADE et al., 2000), sobretudo em solos pobres, ácidos e degradados produzindo elevada quantidade de madeira com baixa acumulação de nutrientes. Assim, a espécie destaca-se em programas de recuperação de áreas degradadas (RAD) e representa uma opção silvicultural para o Brasil (BALIEIRO et al.,2004).

A acácia é uma espécie nativa da parte noroeste da Austrália, de Papua Nova-Guiné e do oeste da Indonésia, com potencial para cultivo nas zonas baixas e úmidas, cuja madeira apresenta usos variados, entre eles a construção civil e de móveis (SMIDERLE,2005).

Família: Mimosaceae

Espécie: Acacia mangium

Sinonímia botânica: Racosperma mangium Willd

Outros nomes (vulgares): acácia-australiana, acácia, cássia.

Aspectos Ecológicos

Árvore perenifólia, apresenta crescimento rápido com vida média de 40 anos. A Acacia mangium é uma espécie típica de terrenos pouco elevados que, atrás dos mangues, ocupa zonas pantanosas estacionais, lagos bem drenados e montes e é frequentemente encontrada em solos de escassa fertilidade (DORAN e SKELTON,1982). A espécie é agressiva, podendo, por alelopatia, impedir a germinação de outras espécies (INSTITUTO HÓRUS,s.d.) e um espectro de tolerância muito grande o que adaptar praticamente a quase todos os ambientes (BARBOSA,2002).

Informações Botânicas

Morfologia

A acácia é com freqüência uma árvore de grande porte que pode alcançar uma altura de 25 a 30 m, com um tronco reto que pode superar a metade da altura total da árvore.

Seu tronco ereto, possui coloração cinza-pardo, com casca pouco saliente e levemente sulcado longitudinalmente. Quanto a ramificação, apresenta-se fina, horizontal, espaçada, formando copa ovalada com folhagem densa (INSTITUTO HÓRUS,s.d.).

As folhas são simples e alternas, em ramos verdes e alados, dispostos espiriladamente, ovalado-lanceoladas ou ovalado-alongadas, largas, coriáceas, de pecíolo curto, ápice alongado, com nervuras salientes partindo da base, de 12-18cm de comprimento. Elas são filódios permanentes que não evoluíram, não dando origem às folhas verdadeiras que deveriam ser pinadas (INSTITUTO HÓRUS,s.d).

Segundo o Centro de Pesquisa Agroflorestal de Rondônia - CPAFRO (2004), as flores encontram-se dispostas em espigas soltas de 10 cm de comprimento, solitárias ou unidas nas axilas superiores. As flores são pentâmeras, com cálice de 0,6-0,8 mm de comprimento, com lóbulos obtusos curtos, corola duas vezes tão longa quanto o cálice.

Os frutos são do tipo vagem, espiralados ou torcidos, marrons, curtos, deiscentes, com sementes pretas, pequenas, pendentes na vagem por um filamento amarelo, formadas de setembro a novembro (INSTITUTO HORUS,s.d). Eles são lineares quando verdes, com 3- 5mm de largura, alcançando 7-8cm de comprimento (BARBOSA,2002).

As sementes são lustrosas e podem ter o formato elipsóide, oval ou mesmo oblongo (2,5-3,5mm), dentro de uma coloração variando sempre dentro da tonalidade alaranjada (BARBOSA,2002).

Ocorrência

Nativa do norte do Estado de Queensland, na Austrália, Papua Nova Guiné e ilhas de Irian Java e Molucas, na Indonésia (TONINI e VIEIRA, 2006).

As latitudes da área de distribuição estão compreendidas entre 1° a 19° S, e os principais populações se encontram a uma altitude que vai desde a próxima ao nível do mar até os 100 m, com um limite superior conhecido de 720 m (DORAN e SKELTON,1982).

Clima

A espécie pode suportar temperaturas médias mínimas de 12 a 25ºC e médias máximas de 31 a 34ºC (BARBOSA,2002).

A área de distribuição desta espécie corresponde principalmente a zona de clima tropical úmido, com um curto período de seca no inverno e uma precipitação anual total elevada. As temperaturas próximas da região costeira são altas e uniformes durante todo o ano. A precipitação percentual média é de aproximadamente 2.100 mm. A. mangium tem preferência por lugares com chuvas abundantes e as separações na distribuição da espécie poderiam estar diretamente relacionadas com as faltas de precipitação (MARINHO et al, 2004).

Solo

A planta é adaptável para uma ampla gama de solos ácidos, pH 4,5-6,5, inclusive tolerando solos de baixa fertilidade ou com baixa drenagem. Cresce em solos com teor de fósforo muito baixo (MARINHO, et al., 2004) e é pouco adaptada, a solos calcários (TONINI e VIEIRA, 2006).

De acordo com Dias et al. (1990) apud Baliero et al. (2004), sua ampla capacidade de adaptação é advinda de características como o rápido crescimento, baixo requerimento nutricional, tolerância a acidez do solo e compactação e a elevada taxa de fixação de N2, quando em simbiose com bactérias diazotróficas , que resultam em produções elevadas de biomassa e entrada de nutrientes, via serrapilheira, em áreas degradadas, podendo favorecer a sucessão vegetal nessas áreas.

Essa espécie apresenta grande potencial para aportar matéria orgânica, nitrogênio e bases trocáveis no solo, além de produzir serrapilheira de baixa relação C/N. Essas propriedades influenciam de forma positiva a manutenção da atividade biológica e a ciclagem de nutrientes em solos degradados. Os valores expressivamente altos de serapilheira que esta espécie pode depositar no solo permitem a formação de reservatório de matéria orgânica e nutrientes, essencial para o processo de revegetação (MARINHO, et al.,2004).

Usos da Madeira

O aproveitamento da madeira é direcionado, principalmente, para polpa de celulose. Porém, a espécie possui aptidão para produção de moirões, construção civil, (BALIEIRO et al.,2004) além de possibilitar a produção de carvão e outros produtos como MDF, aglomerados e compensados (SCHIAVO E MARTINS,2003).

Segundo NAS (1983) apud Barbosa (2002), na forma natural é muito utilizado para produção de madeira serrada e lenha devido a densidade de sua madeira. Em plantios silviculturais existem estudos que podem levar ao aproveitamento de movelaria de baixo custo (BARBOSA,2002).

Pesquisas desenvolvidas nas Filipinas mostraram a viabilidade técnica e econômica de se produzir casa de excelente qualidade a partir da madeira de Acacia mangium, mediante a sua transformação em tábuas de fibra de madeira e cimento (Wood wool cement board) que além das características mencionadas, não aquece, dissipa ruído, usa pouco cimento, e é resistente a fungos, cupins e à água (CASTRO e CIA,s.d.).

Produtos Não-Madeireiros

Como as flores da espécie são melíferas (BALIEIRO et al.,2004), o néctar extrafloral pode produzir mel por abelhas do gênero Apis (BARBOSA,2002).

A apicultura em povoamentos de Acacia mangium é uma atividade altamente lucrativa porque o néctar é produzido em nectários extraflorais existentes nas folhas e que produzem néctar durante toda época do ano, constituindo excelente pasto para as abelhas, principalmente na Ásia (Vietnam, Tailândia, Austrália) onde a espécie é cultivada em extensas áreas (CASTRO e CIA,s.d.).

Nos povoamentos da espécie também é possível a exploração de tanino, que possui boa aceitação nos mercados nacional e internacional (CASTRO e CIA,s.d.).

As folhas da acácia podem ser usadas como forragem na alimentação de animais (LEILLES et al.,1996).

Outros Usos

Segundo o INSTITUTO HÓRUS (s.d), espécie é recomendada para fins paisagísticos devido apresentar copa densa e elegante e adequada para arborização urbana e rural. A árvore vem sendo usada com muito sucesso na arborização das ruas de Manila (Filipinas) e de Bankok (Tailândia), para a remoção de poluentes atmosféricos como o enxofre e o chumbo presente nos gases provenientes dos escapamentos dos veículos. Na Malásia e Tailândia, ela é empregada na arborização de sítios, parques, rodovias e ferrovias, para embelezamento e proteção contra erosões diversas (CASTRO e CIA,s.d.).

Apresenta também grande potencial de uso em programas de reflorestamento e recuperação de áreas com solos pobres ou degradados, tais como as áreas de encostas e de mineração (SCHIAVO e MARTINS,2003).

A espécie também pode ser utilziada como quebra-ventos (BALIEIRO et al.,2004) e para sombreamento.

Vários projetos de reflorestamentos empregando a Acacia mangium têm sido estabelecidos no mundo para comércio do seqüestro de carbono na Bolsa Climática de Chicago. Estudos realizados no Vietnam mostraram que a Acacia mangium foi capaz de fixar maior quantidade de carbono atmosférico por hectare do que os eucaliptos testados, representando a possibilidade de ganhos adicionais de US$3.348,00 (US$60,00/t) por hectare reflorestado (CASTRO e CIA,s.d.).

Sementes

As sementes de acácia apresentam dormência tegumentar que representa uma dificuldade na produção de mudas em programas de reflorestamento. A dormência provoca desuniformidade entre as mudas produzidas em viveiro, além do maior tempo de exposição às condições adversas, como a ação de pássaros, insetos, doenças e a própria deterioração. Embora exótica, a acácia serve muito bem para ocupar ecossistemas degradados, especialmente aqueles com áreas pedregosas e de solos rasos ou formados por dunas de areia (CARVALHO, 1994) (SMIDERLE, 2005).

Devido à dormência causada pelo tegumento impermeável à água, considerável número de sementes de acácia pode permanecer sem germinar, durante os testes de germinação ou em sementeiras destinadas à formação de mudas (SMIDERLE,2005).

A emergência máxima de plântulas de Acacia mangium é obtida após o tratamento das sementes em água a 100°C por um minuto, sem imersão posterior em água a temperatura ambiente, por superar a dureza tegumentar desta espécie (SMIDERLE,2005).

Produção de Mudas e Enxertia

As mudas crescem, em média, 32 cm por mês (BRIENZA JR, 2003), evidenciando o crescimento inicial rápido da espécie.

Miranda e Valentim (1998), ao avaliar a capacidade de enraizamento de estacas de algumas espécies arbóreas, concluíram que a acácia não apresenta enraizamento por estaquia. BORGES JR et al. (2004) estudando a taxa de enraizamento de estacas oriundas brotações de cepas, em árvores que atingiram a maturidade de Acacia mangium, obtiveram uma pequena taxa de enraizamento de 20% em comparação com estacas oriundas de mudas.

Aspectos Silviculturais

O plantio de Acacia Mangium devidamente planejado, permite a perfeita intercalação de culturas agrícolas como o feijão, milho, arroz, soja, amendoim etc., nos dois primeiros anos. A partir do terceiro ano de plantio, a exploração da pecuária dentro da floresta é perfeitamente exeqüível, podendo criar até 2,5 cabeças por hectare. A copa ampla e densa permite o seu emprego como quebra-ventos para o cafeeiro, contra a ação dos ventos gelados do inverno (CASTRO e CIA, s.d.).

Quanto à utilização em produtos serrados e laminados, são necessários tratamentos silviculturais, que melhorem a qualidade da madeira, como a desrama. A desrama é um procedimento que aumenta o valor comercial e a qualidade da madeira (SCHNEIDER, 1999), porém, se realizada de forma inadequada, pode reduzir o crescimento, pela perda assimilatória ocasionada pela forte remoção da copa verde ou por danos bióticos causados por fungos (TONINI e VIEIRA, 2006).

De acordo com Tuomela et al. (1996) apud Tonini e Vieira (2006), em razão de a A. mangium não apresentar desrama natural eficiente e possuir tendência a formar troncos múltiplos, esse procedimento, nos estágios iniciais, é considerado uma prática de manejo necessária, visando à melhoria da qualidade da madeira e à formação de fustes longos de grandes dimensões (TUOMELA et al., 1996) (TONINI e VIEIRA, 2006). Porém, Ito e Nanis (1997), ao avaliar o efeito da desrama na incidência de podridão-do-lenho de A. mangium na Malásia, sugerem que a primeira desrama seja feita em árvores jovens, com galhos pequenos e vivos.

Crescimento e Produção

Em plantios silviculturais de excelente manejo, pode alcançar 15m de altura e 40cm de diâmetro a altura do peito (DAP) em apenas 3 anos, apresentando incremento médio anual em volume de 45m³/ha/ano (SOUZA et al., 2004).

Preço da Madeira no Mercado

Os valores não diferirem muito daqueles cobrados pela madeira serrada de eucalipto na região Sudeste do Brasil, (CASTRO & CIA, s.d.) onde tem oscilado em torno de R$527,50/m³ (INFORMATIVO CEPEA, 2006).

Agência deze7